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Nova espécie dedicada ao Saramago

moluscos

Uma equipa de investigação hispano-cubana identificou 11 novas espécies de moluscos nas Canárias. Com esta descoberta, este grupo liderado por Jesús Ortea, professor jubilado da Universidade de Oviedo, e Juan José Bacallado, do Museo de Ciencias Naturales de Tenerife, que também integra Leopoldo Moro e José Espinosa, do Instituto de Oceanología de La Habana (Cuba), atingiu a marca de 63 novas espécies (10 caracóis e 53 lesmas) identificadas nos últimos 30 anos.

As espécies não têm larvas planctónicas, pelo que a sua capacidade de dispersão é muito limitada. Em combinação com a estrutura fragmentada do arquipélago das Canárias, a especiação foi favorecida.

Entre as novas espécies encontra-se uma da ilha de Lanzarote, que foi denominada Volvarina saramagoi, em honra de José Saramago, Prémio Nobel de Literatura, que residiu nesta ilha. 

[Este artigo faz parte de uma série dedicada à biodiversidade e descoberta de novas espécies.]

Publicado por André Levy

Novas espécies de Aves (2013) Parte III

Esta é a terceira parte (ver parte I e parte II) de uma série sobre novas espécies de aves descobertas em 2013.

25. Sierra Madre Ground-Warbler Robsonius thompsoni (Locustellidae)

Sierra Madre Ground-Warbler Robsonius thompsoni

Sierra Madre Ground-Warbler Robsonius thompsoni

Esta espécie foi descoberta depois de dois anos de investigação do complexo Robsonius nas ilhas Luçon, nas Filipinas, revelaram uma estrutura geográfica com três espécies, provavelmente originárias por especiação alopátrica:  Robsonius rabori conhecida apenas do norte da cordilheira Central na ilha de Ilocos; R. sorsogonensis no sul de Luçon, nas províncias de Bualcan e Laguna; e a nova R. thompsoni no norte da Sierra Madre. O complexo é apenas conhecido no norte das Filipinas, não tendo parente próximo conhecido. São aves terrestres, que praticamente não voam. O seu canto é muito agudo e ventríloquo, isto é dificulta muito a localização da ave.

Robsonius-FilipinasDiferenças de plumagem deram uma indicação inicial de que se poderiam tratar de espécies diferentes, o que veio a ser confirmado por comparação de sequências de ADN.

26. Guerrero Brush-finch Arremon kuehnerii (Emberizidae), nas florestas nebulosas das montanhas Sierra Madre del Sul, no México ocidental.

This painting shows three Arremon brush-finches: top – Arremon brunneinucha brunneinucha, middle – the newly discovered Arremon kuehnerii; bottom – Arremon virenticeps. Image credit: Navarro-Sigüenza AG et al / the Wilson Journal of Ornithology.

Arremon brunneinucha (topo); a nova Arremon kuehnerii (meio); Arremon virenticeps (baixo). (Imagem de Navarro-Sigüenza AG et al

A nova espécie, A. kuehnerri, é quase indistinta fenotipicamente (no seu aspecto morfológico) de A. brunneinucha. Mas sequências do ADN mitocondrial indicam que o seu parente mais próximo é A. virenticeps. Assim, parece que reteve um fenótipo ancestral ao complexo.

À semelhança do Otus frutuosi, referido na parte I, as duas seguintes espécies, e últimas na lista, encontram-se extintas

27. New Caledonia Snipe, Coenocorypha neocaledonica (Scolopacidae)

Esta nova espécie, já extinta, foi descrita a partir de fósseis encontrados numa caverna na Nova Calcedónia, datados no final do Holoceno. Comparação com espécies do mesmo género indicam que terá sido o voador mais capaz, contudo extinguiu-se há cerca de mil anos, possivelmente como resultado da predação por ratazanas, que colonizaram a ilha juntamente com os humanos.

28. Bermuda Flicker, Colaptes oceanicus (Picadae)

Fósseis de pica-paus foram descobertos na ilha Bermuda, do final do Pleistocénio/Holoceno. Entre eles existiam formas mais pequenas que o C. auratus, da América do Norte, mas maiores que a subespécie C. a. gundlachi do Grande Caimão. A nova espécie, C. oceanicus, que se distingue também por alguns aspectos ósseos, terá persistido após o período colonial (séc XV), mas ter-se-á extinto posteriormente. Provavelmente faria ninhos nas palmeiras locais e em troncos em decomposição, abrigos que terão sido importantes para a evolução da pequena coruja Aegolius gradyi, e proporcionado abrigo para outros organismos.

Hosner, et al. 2013. Phylogeography of the Robsonius Ground-Warblers (Passeriformes: Locustellidae) Reveals an Undescribed Species from Northeastern Luzon, Philippines. The Condor. 115 (3) ; 630-639 DOI:  10.1525/cond.2013.120124
Navarro-Sigüenza AG et al. 2013. A new species of Brush-Finch (Arremon; Emberizidae) from western Mexico. The Wilson Journal of Ornithology 125 (3): 443-453; doi: 10.1676/12-136.1
Storrs L. Olson (2013). “Fossil woodpeckers from Bermuda with the description of a new species of Colaptes (Aves: Picidae)”. Proceedings of the Biological Society of Washington 126 (1): 17–24.
Worthy, Trevor, Anderson, Atholl, and Sand, Christophe. (2013). An extinct Austral snipe Aves: Coenocorypha from New Caledonia. Emu 113(4): 383-393.

[Este artigo faz parte de uma série dedicada à biodiversidade e descoberta de novas espécies.]

Publicado por André Levy

Extinções de espécies em 2013

Esta rubrica tem assinalado novas espécies para a ciência, geralmente fruto de vários anos de investigação. Muitas haverão ainda por descrever. Infelizmente, muitas espécies conhecidas estão a extinguir-se. A extinção é um processo natural; a grande maioria das espécies que habitaram o nosso planeta ao longo da sua história já se extinguiram (~95%). Mas muitas das actuais extinções são causadas por actividade humana, e a dimensão das actuais taxas de extinção é equivalente à das grandes extinções em massa.

Uma espécie em extinção é por definição rara, e a confirmação da sua extinção, da sua não existência, não é fácil. Algumas espécies que se julgavam extintas foram depois re-descobertas (embora o seu estatuto continue em geral ameaçado). Estas são designadas espécies Lazarus (ver exemplos). Por outros lado, no post inicial desta rubrica, já referimos como entre a amostragem de espécimenes e a identificação e descrição das novas espécies podem decorrer décadas, e que em alguns casos, ao regressar ao local de amostragem, verificou-se que a nova espécie já não se encontrava na natureza. Até declarar a espécie extinta, há que a procurar activamente durante algum tempo. Esta declaração é mais segura em espécies que são monitorizadas de perto. Datar e compreender as causas de extinção é importante para melhor evitarmos futuras extinções.

Em 2013, a subespécie do leopardo nebuloso da Formosa (endémica de Taiwan), Neofelis nebulosa brachyura, foi declarada extinta após 13 anos de investigação, usando 1500 câmaras infra-vermelhas, armadilhas de pêlo e incontáveis horas de trabalho de campo. Esta sub-espécie ter-se-á extinto resultado da caça para obtenção das suas peles. Os últimos espécimenes terão sido observado nos anos 1980. A espécie Neofelis nebulosa, existe ainda nos Himalaias, com estatuto de vulnerável a extinção.

Neofelis nebulosa brachyura

Neofelis nebulosa brachyura

O Lagarto Gigante de Cabo Verde (Chioninia coctei) foi declarado extinto em 2013. Esta espécie endémica de Cabo Verde não era vista desde 1912, mas pensa-se ter encontrado restos parciais de um juvenile nas fezes de de um gato na ilha de Santa Luzia, em 2005. Esforços de amostragem em 2006 não lograram encontrar qualquer espécimen. Desde então a população de gato domestico tem aumentado substancialmente e, juntamente com a pressão de ratazanas e cães domésticos, pensa-se que o lagarto terá sido eliminado.

Chioninia coctei

Chioninia coctei

A enguia espinhosa do Sri Lanka (Macrognathus pentophthalmos) comum em 1980, ter-se-á extinto resultado da predação por peixes introduzidos por humanos. O Cyprinodon arcuatus do Arizona, peixe de zonas húmidas, terá desaparecido fruto da gestão das zonas aquáticas que secou muitas das lagoas que habitava e da introdução de um robalo predador. O peixe gato Noturus trautmani, natural do estado de Ohio, foi visto pela última vez em 1957 e ter-se-á extinto devido á degradação da qualidade da água fruto de descargas poluentes.

O Maçarico esquimó (Numenius borealis), ave costeira da tundra do Canada e Alasca, também foi outrora abundante, mas a sobrecaça fez dela uma espécie rara, tendo o último espécimen sido observado em 1963. O Canadá vai declarar a espécie extinta. O ano passado, numa conferência em Ottawa, a Birdlife Internacional alertou que uma em cada 8 espécies de aves (cerca de 1,300 ‘espécies’) estão em riscos de extinção e que 200 espécies estão à beira de extinção.

Numenius borealis

Numenius borealis

O Sapo Darwin do Norte (Rhinoderma rufum), endémico do Chile, foi reconhecido como espécie distinta em 1975. O último espécimen foi visto em 1980. Em 1982, esforços de amostragem intensos não lograram descobrir esta espécie, mas hesitou-se em declarar extinção até 2013. É possível que a espécie ainda persista, mas os anfíbios em geral estão a sofrer uma tendência preocupante de declínio e extinção. Cerca de um terço das espécies (1856) estão ameaçadas, e cerca de 170 espécies ter-se-ão extinto nas últimas décadas

Este post baseou-se na compilação feita no blog Living Alongside Wildlife.
[Este artigo faz parte de uma série dedicada à biodiversidade e descoberta de novas espécies.]
Publicado por André Levy

Novas espécies de Aves (2013) Parte II

Esta segunda (de 3) parte dedicada às novas espécies de aves descobertas em 2013 (ver parte I) será exclusivamente sobre a extraordinária descrição de 15 novas espécies da Amazónia, 11 das quais endémicas do Brasil (ver comunicado). Trata-se do maior número de espécies Brasileiras descritas de uma só vez desde 1871. A maior parte das espécies foram descobertas por diferenças nos cantos identificados no campo. As espécies estão descritas no último (e 17º) volume da série «Handbook of the Birds of the World» (HBW). O feito é resultado de anos de trabalho, de mais de 30 investigadores, e da colaboração entre 4 institutos: Museu Zoológico da Universidade de São Paulo (MZ-USP); o Instituto Nacional para Pesquisa da Amazónia (Inpa) em Manaus; e o Museu Emílio Goeldi do Pará (MPEG), em Belém; e o Louisiana State University Museum of Natural Science (LSUMNS) nos EUA. A Amazónia tem cerca de 1,300 espécies de aves, a maior densidade de espécies por área do mundo. O Brasil tem cerca de 1,840 espécies,  o segundo país mais rico em avifauna, depois da Colômbia com cerca de 1,900. Mas muitas espécies encontram-se por descobrir, algumas delas ainda em museus.

Localização geográfica das novas espécies

Localização geográfica das novas espécies

10. Western Striolated, Nystalus obamai Whitney et al. 2013  (Bucconidae) em honra de Barack Obama, em particular seus esforços na promoção da energia solar. Oiçam o canto.

nystalus_obamai (Foto de Vitor Piacentini)

Nystalus obamai (Foto de Vitor Piacentini)

As restantes espécies são todas da ordem Passeriformes.

11. Xingu Woodcreeper, Dendrocolaptes retentus Batista et al. 2013 (Furnariidae) [Foto não disponível]

12. Inambari Woodcreeper, Lepidocolaptes fatimalimae Rodrigues, Aleixo, Whittaker et Naka, 2013 (Furnariidae)

Lepidocolaptes fatimalimae (foto de Andrew Whittaker)

Lepidocolaptes fatimalimae (Foto de Andrew Whittaker)

13. Tupana Scythebill (arapaçu-de-bico-torto), Campylorhamphus gyldenstolpei Aleixo et al., 2013 (Furnariidae)

Campylorhamphus gyldenstolpei (Foto de Vitor Piacentini)

Campylorhamphus gyldenstolpei (Foto de Vitor Piacentini)

14. Tapajós Scythebill, Campylorhamphus cardosoi Portes et al., 2013 (Furnariidae) [Foto não disponível]

15. Roosevelt Stipple-throated Antwren (chorozinho), Epinecrophylla dentei Whitney et al., 2013 (Thamnophilidae). Vejam video.

Epinecrophylla dentei (Foto de Fabio Schunck)

Epinecrophylla dentei (Foto de Fabio Schunck)

16. Bamboo Antwren Myrmotherula oreni Miranda et al., 2013  (Thamnophilidae). Oiçam canto.

Myrmotherula oreni (Foto de Lars Petersson)

Myrmotherula oreni (Foto de Lars Petersson)

17. Predicted Antwren Herpsilochmus praedictus Cohn-Haft et Bravo, 2013 (Thamnophilidae)

Herpsilochmus praedictus (de video de Bret M. Whitney)

Herpsilochmus praedictus (de video de Bret M. Whitney)

18. Aripuana Antwren Herpsilochmus stotzi Whitney, Cohn-Haft, Bravo, Schunck et Silveira, 2013 (Thamnophilidae). Oiçam canto. Esta espécie e a anterior do mesmo género, H. praedictus, são morfologicamente quase idênticas, mas suas vocalizações são distintas. Vivem em lados opostos do rio Madeira, que terá dividido a população do ancestral há cerca de 2 milhões de anos.

Herpsilochmus stotzi (Foto de Fabio Schunck)

Herpsilochmus stotzi (Foto de Fabio Schunck)

19. Manicore Warbling-Antbird Hypocnemis rondoni Whitney et al., 2013  (Thamnophilidae)

Hypocnemis rondoni (imagem de video de Bret M. Whitney)

Hypocnemis rondoni (imagem de video de Bret M. Whitney)

20. Chico’s Tyrannulet Zimmerius chicomendesi Whitney, Schunck, Rêgo et Silveira, 2013 (Tyrannidae), em honra de Chico Mendes, o seringueiro e activista Brasileiro. Vejam video e oiçam canto.

Zimmerius chicomendesi (Foto de Fabio Schunck)

Zimmerius chicomendesi (Foto de Fabio Schunck)

21. Acre Tody-Tyrant Hemitriccus cohnhafti Zimmer, Whittaker, Sardelli, Guilherme et Aleixo, 2013 (Tyrannidae)

Hemitriccus cohnhafti (Foto de Andrew Whittaker)

Hemitriccus cohnhafti (Foto de Andrew Whittaker)

22. Sucunduri Yellow-margined Flycatcher Tolmomyias sucunduri Whitney, Schunck, Rêgo et Silveira, 2013 ( Tyrannidae). Oiçam canto.

Tolmomyias sucunduri (Foto de Fabio Schunck)

Tolmomyias sucunduri (Foto de Fabio Schunck)

23. Inambari Gnatcatcher Polioptila attenboroughi Whittaker, Aleixo, Whitney, Smith et Klicka, 2013 (Polioptilidae), em honra a David Attenborough. Oiçam canto.

Polioptila attenboroughi (imagem de video de Bret Whitney)

Polioptila attenboroughi (imagem de video de Bret Whitney)

24. Campina Jay (cancão-da-campina) Cyanocorax hafferi Cohn-Haft, Santos Junior, Fernandes et Ribas, 2013 (Corvidae). A maior das 15 aves, com cerca de 35 cm de comprimento. Viva apenas nas pradarias naturais entre os rios Madeira e Purus, habitat ameaçado pela proximidade da auto-estrada BR-319, que liga a capital do estado do Amazonas à cidade de porto Velho.

Cyanocorax hafferi (Foto de Luciano Moreira Lima)

Cyanocorax hafferi (Foto de Luciano Moreira Lima)

Handbook of the Birds of the World. Special Volume: New Species and Global Index (published 20 June 2013).

[Este artigo faz parte de uma série dedicada à biodiversidade e descoberta de novas espécies.]

Publicado por André Levy

Novas espécies de Aves (2013) Parte I

Em Fevereiro, referimos a descoberta de uma nova espécie de coruja, Otus jolandae (Strigidae). A descoberta de novas espécies de aves, à semelhança de outros grupos muito apreciados e estudados pelos humanos, como os mamíferos (cujas novas descobertas foram referidas no post anterior), repteis e anfíbios, cujo número relativamente restrito (na ordem dos milhares, mas muito inferior à de escaravelhos), é motivo de registo. A descoberta de aves é talvez recebida com maior admiração e interesse, devido ao número elevado de observadores amadores deste grupo (birdwatchers). Mais do que qualquer outro grupo de seres vivos, muito devido à tradição anglo-saxónica, a observação de aves mobiliza organizações, excursões e outras formas de turismo em todo o mundo.

O ano de 2013 foi também particularmente rico na descrição de novas espécies de aves (na minha contagem 28 espécies; ERRATA: o título inicial deste post referia erradamente 29 novas espécies), sendo que estas descobertas geralmente implicam anos de estudo, como no caso do O. jolandae. Além desta espécie, este ano foram descritas as seguintes novas espécies (ver referências no final do post):

2.  São Miguel Scops Owl, Otus frutuosoi (Strigidae), que se extinguiu com a colonização humana da ilha no século XV, e cujo epíteto específico honra o  historiador Açoriano Gaspar Frutuoso.

Otus frutuosi

Otus frutuosi Rando et al. 2013

3. Omani Owl Strix omanensis (Strigidae), endémico de Omã

Strix omanensis

Strix omanensis Magnus et al. 2013

4. Seram Masked Owl, Tyto almae (Tytonidae), da ilha de Seram na Indonésia.

Tyto almae

Tyto almae Jønsson et al. 2013

5. Pincoya Storm Petrel, Oceanites pincoyae (Hydrobatidae), da região de Puerto Montt e canal de Chacao, no Chile

Oceanites pincoyae

Oceanites pincoyae Harrison et al. 2013

6. Delta Amacuro Softtail, Thripophaga amacurensis (Furnariidae), do delta do rio Orinoco, na Venezuela.

Thripophaga amacurensis (por  Robin Restall, de Hilty et al. 2013 )

Thripophaga amacurensis (por Robin Restall, de Hilty et al. 2013 )

7. Junin Tapaculo, Scytalopus gettyae (Rhinocryptidae), encontrada a 2,300 e 3,100 m de altitude, no Peru, e que se destinge de outras espécies do género pelo canto com série de várias frases ascendentes. Oiçam o canto desta espécie (e outras) no sítio Xeno-canto. O epíteto específico comemora Caroline Marie Getty, que trabalha para a  National Fish and Wildlife Foundation (NFWF).

Scytalopus gettyae

Scytalopus gettyae Hosner et al. 2013

8. Cambodian Tailorbird Orthotomus chaktomuk (Cisticolidae), descoberta na capital do Cambodja, Phnom Penh. O epíteto significa, em Khmer antigo, quatro-faces, referindo-se à zona de Phnom Penh onde vários rios convergem. Pouco fora dos limites da cidade, existe aí um habitat arbustivo onde a espécie foi descoberta.

Orthotomus chaktomuk

Orthotomus chaktomuk Mahood et al. 2013

9. Tropeiro Seedeater, Sporophila beltoni (Emberizidae), endémica do sul do Brasil.

Sporophila beltoni

Sporophila beltoni Repenning et Fontana, 2013

Harrison et al. 2013. A new storm-petrel species from Chile. The Auk 130 (1): 180–191.
Hosner et al. 2013. A New Species of Scytalopus tapaculo (Aves: Passeriformes: Rhinocryptidae) from the Andes of Central Peru”. The Wilson Journal of Ornithology 125 (2): 233–242. doi:10.1676/12-055.1.
Hilty et al. 2013. A New Species of Softtail (Furnariidae: Thripophaga) from the Delta of the Orinoco River in Venezuela. The Condor 115 (1): 143–154. doi:10.1525/cond.2012.110212.
Jønsson et al. 2013. A new species of masked-owl (Aves: Strigiformes: Tytonidae) from Seram, Indonesia. Zootaxa 3635 (1): 51–61. doi:10.11646/zootaxa.3635
Magnus et al. 2013. A new species of Strix owl from Oman”. Dutch Birding 35 (5): 275–310.
Mahood et al. 2013. A new species of lowland tailorbird (Passeriformes: Cisticolidae: Orthotomus) from the Mekong floodplain of Cambodia. Forktail 29: 1–14.
Rando et al. 2013. A new species of extinct scops owl (Aves: Strigiformes: Strigidae: Otus) from São Miguel Island (Azores Archipelago, North Atlantic Ocean). Zootaxa 3647 (2): 343-357.
Repenning & Fontana. 2013. A new species of gray seedeater (Emberizidae: Sporophila) from upland grasslands of southern Brazil. The Auk 130 (4): 791-803
Sangster et al. 2013. A New Owl Species of the Genus Otus (Aves: Strigidae) from Lombok, Indonesia. Plos One 8 (2).
[Este artigo faz parte de uma série dedicada à biodiversidade e descoberta de novas espécies.]
Publicado por André Levy

Novas espécies de mamíferos

Diversidade na classe MammaliaA classe Mammalia, os mamíferos, inclui cerca de 5 mil espécies. Os grupos mais abundantes (ver abaixo) são os roedores (Rodentia) e os morcegos (Chiroptera). Em termos relativos, representa uma diversidade inferior às restantes classes de vertebrados: repteis (quase 8 mil espécies), anfíbios (5400 espécies), aves (cerca de 10 mil espécies), ou os peixes ósseos (cerca de 28 mil espécies). Mas é neste grupo que encontramos várias espécies carismáticas e emblemáticas do seu habitat. O Koala e Canguru evocam a Austrália. O Leão, Zebra, Girafa e o Hipopótamo (os 4 amigos da série animada Madagascar) evocam África. O Leão marinho, Baleia Azul e Golfinho evocam o mistério e inteligência do meio marinho. Class_Mammal_OrdersPelo seu encanto têm despertado muito interesse, e são um grupo bastante bem estudado. Mas apesar disso, continuam a ser encontradas novas espécies de mamíferos. Muitas das novas espécies pertencem aos Rodentia e Chiroptera, o que se entende por serem os grupos mais diversos e por muitas das suas espécies serem de menor tamanho, difíceis de capturar, ou viverem em habitats remotos.  (Ver aqui lista de novos mamíferos descobertos no século XXI.) Mas o ano passado tivemos oportunidade de registar aqui neste blogue a descoberta de várias espécies novas de primatas, uma ordem de mamífero particularmente bem estudado, entre outros motivos por ser a ordem à qual pertencemos.

Desta feita destacamos a descoberta, no final deste ano, de várias espécies de mamíferos de outras ordens. Julian Kerbis Peterhans anunciou 4 novas espécies  (2 morcegos e 2 musaranhos, da ordem Soricomorpha), descobertas em 2007 durante uma visita de menos de 30 dias à florestas na República Democrática do Congo, cuja riqueza comentámos o ano passado.

Uma das novas espécies de morcego, Rhinolophus willardi, e foto do seu habitat na República Democrática do Congo, no Rio Kilicha

Uma das novas espécies de morcego, Rhinolophus willardi, e foto do seu habitat na República Democrática do Congo, no Rio Kilicha.

Nas últimas semanas foi publicada a descoberta de uma nova espécie de Tapir, Tapirus kabomani, proveniente da floresta Amazónica, o primeiro novo Perissodactyla em mais de cem anos. Já eram conhecido exemplares, mas sempre haviam sido erroneamente classificados pelos cientistas como sendo da espécie irmã T. terrestris. As tribos nativas já a reconheciam como uma espécie distinta, mas a sua classificação havia sido ignorada. Mas esse reconhecimento foi a base para um estudo morfológico e molecular mais aprofundado que veio a confirmar a existência de uma espécie distinta. Embora este tapir nocturno seja dos tapirs mais pequenos, trata-se de um dos maiores animais da América do Sul. Infelizmente, como já vem sendo recorrente, esta nova espécie encontra-se ameaçada devido ao desbaste da floresta Amazónica.

Tapirus kabomani

Tapirus kabomani

Dadas as características do estudo dos mamíferos, várias descobertas de novas espécies são apenas o reconhecimento de que uma espécie são na verdade duas, isto é, que sob o mesmo nome co-existiam grupos reprodutivamente isolados. Essa realização só é alcançada com maior estudo, com o desvendar de diferenças morfológicas, ecológicas, comportamentais antes desapercebidas, ou através do uso de informação molecular que revela existirem grupos algo separados. Por essa razão, muitos dos anúncios da descoberta de novas espécies são fruto de anos de trabalho minucioso. Foi o caso com o T. kabomani e também o do reconhecimento da existência de uma nova espécie de golfinho corcunda (do género Sousa).

Existem cerca de 37 espécies na família Delphinidae, incluindo espécies de água doce e água salgada. Mendez et al. analisaram 24 características craniais de 180 espécimenes, e dados moleculares de 235 indivíduos de género Sousa, distribuídos nos oceanos Atlântico e Indo-Pacífico, para melhor compreenderem a sua estrutura populacional. Os resultados concordantes das várias fontes de dados indicam existirem 4 espécies; S. teuszii na costa Atlântica de África; S. plumbea no Oceano Índico ocidental e central; S. chinensis no Índico Oriental e Pacífico Ocidental; e uma espécie ainda sem nome a norte da Austrália. O reconhecimento de uma nova espécie, em particular um mamífero, não é inconsequente ou de interesse meramente académico. A ‘espécie’, a bem ou mal, é a unidade de conservação. Pelo que o reconhecimento desta nova espécie no norte da Austrália, acciona novas necessidades em termos de conservação daquela população.

Para terminar, a descoberta de uma espécie tropical que não está ameaçada, o olinguito Bassaricyon neblina,  membro da família Procyonidae, que também inclui os guaxinins. Trata-se do primeiro carnívoro descoberto nas Américas nos últimos 35 anos.  Esta espécie solitária e nocturna, pesando menos de um quilo, habita as florestas nebulosas e densas da Colômbia e Equador.

Bassaricyon neblina

Bassaricyon neblina

Kristofer Helgen, curador do Field Museum em Chicago, estudava espécimenes de museu, em 2003, quando notou que alguns eram mais pequenos, com dentes mais pequenos e longos, e pelo mais denso. Os apontamentos que acompanhavam os espécimenes indicavam terem sido capturados há décadas nos Andes, a 1500-2700 métros de altitude, muito acima dos olingos conhecidos há data. Subsequentes idas ao local e analise de amostras confirmou tratar-se de uma nova espécie e possivelmente esta estar estruturada em 4 sub-espécies.

Recentemente foi fotografado uma cria de olinguito. A nossa reacção visceral ao vermos a cria de qualquer mamífero é sinal de um instinto profundo, de ternura e afecto, o instinto de um adulto que vê uma cria da sua espécie e a protege. A nossa reacção é comum a outras crias de mamíferos pois todas partilham características comuns: olhos proporcionalmente grandes, cabeça mais redonda e proporcionalmente maior (para mais ver este artigo, que refere a explicação de Stephan Jay Gould para a transformção do Mickey Mouse).

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Kerbis Peterhans et al. (2013) Bats (Chiroptera) from the Albertine Rift, eastern Democratic Republic of Congo, with the description of two new species of the Rhinolophus maclaudi group. Bonn zoological Bulletin 62 (2): 186-202.
Cozzuol et al. (2013) A new species of tapir from the Amazon. Journal of Mammalogy, 94(6):1331-1345.
Mendez et al. (2013) Integrating multiple lines of evidence to better understand the evolutionary divergence of humpback dolphins along their entire distribution range: a new dolphin species in Australian waters? Molecular Ecology 22 (23). 5936–5948.
Helgen et al. (2013) Taxonomic revision of the olingos (Bassaricyon), with description of a new species, the Olinguito. ZooKeys 324: 1–83, doi: 10.3897/zookeys.324.5827

[Este artigo faz parte de uma série dedicada à biodiversidade e descoberta de novas espécies.]

Publicado por André Levy

Primeira nova espécie de peixe de Timor Leste

O Triângulo de Coral é a zona de maior biodiversidade marinha do mundo. Contem 2,228 espécies de peixe (37% do número total de peixes existentes no mundo) e 605 espécies de coral (76% total) . (Para mais ver aqui.) Geograficamente inclui as ilhas da Indonésia, Malásia, Papua Nova Guiné, Filipinas, Ilhas Salomão e um dos mais jovens países do mundo, Timor Leste, que se tornou efectivamente independente em 2002. Em 2007, estabeleceu-se o primeiro parque natural de Timor Leste, que recebeu o nome de um herói da FRETILIN e do movimento pela indpendência nacional: Nino Konis Santana. O parque inclui uma zona terrestre e marinha, parte do triângulo de coral.

coral triangle

O estudo do parque marinho e restantes águas revelou que Timor Leste é o terceiro país com maior biodiversidade de peixes de coral do mundo, com 967 espécies. E recentemente foi descoberta uma nova espécie, a primeira nova espécie descoberta no jovem país: o gobídeo  Evoita santanai.

Evoita santanai

Evoita santanai

Greenfield, DW & Erdmann, MV. 2013. Eviota santanai, a new Dwarfgoby from Timor-Leste (Teleostei: Gobiidae). Zootaxa 3741 (4): 593–600
[Este artigo faz parte de uma série dedicada à biodiversidade e descoberta de novas espécies.]
Publicado por André Levy

Nova espécie carraça do nariz

O meu orientador de doutoramento tinha uma grande colecção de insectos pessoal. Espécimenes que fora coleccionando perto da universidade e nas suas várias viagens, que havia obtido em troca com outros entomólogos. A colecção era usada na cadeira de Entomologia, durante a qual os estudantes tinham de fazer a sua própria colecção, com espécimenes representando um um número mínimo de ordens e famílias. De repente os alunos começaram a olhar para o meio de forma diferente, olhando à escala pequena, notando diferentes micro-habitats onde pudessem existir diferentes taxa de insectos. Eu próprio senti essa transformação quando fiz essa cadeira de licenciatura. E ainda tenho imenso gozo em cair ao chão e espreitar o micro, levantar uma pedra ou tronco, bater um arbusto com uma rede. E depois cuidadosamente montar o insecto de forma a dar-lhe uma forma viva e deixar os traços diagnósticos bem visíveis. E entre insectos que fui apanhando e outros que herdei tenho já uma colecção respeitável. Mas nada como um dos espécimenes de honra do meu orientador: uma mosca-berneira (Dermatobia hominis; famlia Oestridae). Durante uma visita ao Brasil uma destas moscas havia ovopisitado no seu braço, e após uma semana e pouco já se via a larva a crescer sob a sua pele. Na semana final (o tempo de até à emergência do adulto é cerca de 30 dias) foi aguentado o incómodo para poder colectar o adulto, amarrando um pequeno frasco ao braço para o efeito.

Esta experiência não é inédita (assim como investigadores se auto-infectarem) e recentemente o bio-patologista Tony Golberg descobriu uma nova espécie no seu nariz. Ao regressar de uma estadia a observar chimpanzés  no Uganda, Golberg sentia uma impressão e com o uso de um espelho e lanterna pode encontrar,  no interior do nariz, onde a cartilagem encontra o osso, uma carraça já inchada de sangue. Sendo patologista sabia que teria de ter cuidado ao remover a carraça para evitar que esta ejectasse saliva potencialmente infecciosa. Com o uso de material de laboratório conseguiu remover a carraça.

Já não era a primeira vez que tivera uma carraça no nariz, mas desta vez conseguira removê-la  sem a danificar. Era pouco mais que um estômago distendido (do diâmetro de um lápis), um probóscis e pequenas pernas. Parte do espécimen foi usado para análise de DNA, e resultou não haver correspondência com sequências já existentes nas bases de dados, indicando que poderia ser uma espécie nova para a ciência.

Um seu colega que havia estudado fotografias de alta-resolução de chimpanzés descobrira que muitos tinham carraças no interior do nariz, uma fenómeno que não havia ainda sido descrito. Tudo indicava que a espécie que infectara Golberg havia evoluído para ‘colonizar’ os narizes dos chimpanzés, bem no interior, onde a remoção com uma unha se torna difícil.

Golberg pretende agora voltar e colher mais espécimenes para confirmar a identidade da nova espécie e estudá-la. No seu relato ao Guardian, ele confessou que “O desconforto e repulsa que passou foi razoavelmente compensado. Sinto-me genuinamente agradecido por ter sido escolhido como hospedeiro pela carraça.”

[Este artigo faz parte de uma série dedicada à biodiversidade e descoberta de novas espécies.]

Publicado por André Levy

Novas espécies de Hemicordata

Até recentemente o filo dos hemicordados incluía 120 espécies (Zhang, 2011, Zootaxa 3148: 7–12), a vasta maioria da da plataforma continental.  Juntamente com os equinodermes, trata-se do filo mais perto dos cordados.

Usando ROVs (veículos operados por via remota), biólogos marinhos têm melhorado o nosso conhecimento dos oceanos marinhos, incluindo o seu biota. Estes permitem tirar fotos, vídeos e recolha de algumas amostras, o que permite identificar novas espécies e estudar um pouco o seu comportamento e ecologia. Usando esta tecnologia, após observar vídeos recolhidos  nos últimos 23 anos, Osborn et al. (2012) identificaram nove, talvez tantas como 16 novas espécies de hemicordados, suplicando o número deste filo conhecido no oceano profundo, e ergueram uma nova família.

Figura de Osborn 2012. A maior das espécies não têm ainda nome.

Figura de Osborn 2012. A maior das espécies não têm ainda nome.

Osborn, K.J., Kuhnz, L.A., Priede, I.G., Urata, M., Gebruk, A.V., and Holland, N.D. (2011). Diversification of acorn worms (Hemichordata, Enteropneusta) revealed in the deep sea . Proceedings of the Royal Society – B, November 16, 2011; doi:10.1098/rspb.2011.1916
[Este artigo faz parte de uma série dedicada à biodiversidade e descoberta de novas espécies.]
Publicado por André Levy

Nova espécie de tubarão caminhante

Hemiscyllium Halmahera (Foto de Mark Erdmann)

Hemiscyllium halmahera (Foto de Mark Erdmann)

Foi descoberta uma nova espécie de Hemiscylliidae, uma família de tubarões do Indo-Pacífico de que usa as barbatanas peitorais para se deslocar no fundo do mar (ver video).

A nova espécie, Hemiscyllium halmahera, habita os recifes de coral dos mares da Indonésia, perto da ilha de Ternate. Já conhecida pelos pescadores locais, só agora foi descrita por uma equipa da Conservation International

A Indonésia lidera o mercado de exportação de barbatanas de tubarão: cerca de cem mil toneladas de tubarão e raias por ano (10–13% da captura global). O mercado mundial – de USD$630 milhões/ano –   serve sobretudo a procura de sopa de barbatana, em particular na China. A procura mundial porém está a diminuir, enquanto o eco-turismo de observação de tubarões está em crescimento. Um estudo publicado este ano na revista Oryx estima que este sector proporciona 10 mil empregos em 29 países e gera $314 milhões por ano, podendo duplicar nos próximos 20 anos. Um conjunto de países – incluindo as Bahamas, Honduras, Nova Caledónia e a Indonésia – tem respondido a esta procura criando sanctuários para proteger os recifes de coral e seus elasmobranquios.

Allen GR et al. 2013. Hemiscyllium halmahera, a new species of Bamboo Shark (Hemiscylliidae) from Indonesia. aqua, International Journal of Ichthyology, 19 (3): 123-136
Cisneros-Montemayor, AM et al. 2013. Global economic value of shark ecotourism: implications for conservation. Oryx, 47(3), 381–388.
[Este artigo faz parte de uma série dedicada à biodiversidade e descoberta de novas espécies.]
Publicado por André Levy