A Biotecnologia não é bicho papão.
São pessoas.
É instrumento de mercado.
É revolução?
Quando se fala na tecnologia que mexe com os genes, a resposta mais comum é o receio. A tecnologia de recombinação do ácido desoxirribonucleíco (vulgo DNA) já é mais aceite socialmente. A batata geneticamente modificada foi aprovada na Comunidade Europeia. Os genes já estão na boca deste lado do Mundo. Sociedade que trabalha e consome biotecnologia aumenta, temos mais cientistas em número e em percentagem e mais bio-indústria. Será que já se cumpre a Revolução Genética anunciada pela revista Time no virar do Milénio?
A Sociedade civil começou a descobrir o que são os organismos geneticamente modificados (OGM’s) já a par da sua produção para bens e serviços. Depois de uma fase de cepticismo geral, pode-se dizer que há uma maior aceitação de mercado em Portugal. Mas é este um consumo consciente? Quantos de nós consultamos o rótulo dos nossos produtos?
Ao nível europeu, dados do Eurobarómetro da União Europeia indicavam um aumento da confiança nos transgénicos em 2006. Metade dos europeus acreditava que a biotecnologia iria aumentar a sua qualidade de vida, dizia o estudo. Em sociedades com ritmos de consumo enormes, como na Europa e EUA e aumentos demográficos exponenciais na Ásia e África, como vamos produzir alimentos para todos?
Afinal, do que se fala aqui é de sustentabilidade. Uma sustentabilidade que consiga suster a nossa humanidade em crescimento exponencial. Neste equilíbrio entre Sociedade, Ambiente e Ciência, desenham-se dois pólos. De um lado, o desenvolvimento humano baseado no sistema económico e tecnológico. De um outro, o desenvolvimento humano baseado na conservação de recursos e na transformação dos hábitos de consumo.
E o que diz a ciência? A ciência é uma voz plural. Toda e qualquer prática de mediação ciência, como qualquer mediação cultural deve sempre ter presente a diversidade. David Edwards, da Biotechnology Industry Association, dizia “Se o consegue imaginar, os cientistas podem tentar fazê-lo.” Isto quando a americana Food and Drugs Administration começava um encontro de dois dias a 20 de Setembro para saber se aprovava ou não a comercialização de salmão geneticamente modificado. Será que este salmão é seguro? Serão todos os alimentos de OGM’s seguros?
A Organização Mundial de Saúde diz-nos que “alimentos geneticamente alterados e a sua segurança devem ser considerados individualmente e que não é possível fazer declarações gerais em relação à segurança de todos os alimentos geneticamente modificados”. Contudo, todos os alimentos actualmente no mercado passam por avaliações de risco e não contribuem com “nenhum risco à saúde humana”.

Mas quando se fala de Biotecnologia, temos sempre que considerar a indústria que a produz. As sementes de OGM’s são patentes de grandes multinacionais. A pressão e competividade de mercado dá uma vantagem clara sobre variedades tradicionais de sementes. Comunidades sociais espalhadas pelo Mundo exploram os benefícios da agricultura tradicional. Quem usa a “ecologia dos pobres” que levou o Nuno e tantos outros a Copenhaga ao Klima Forum é disso exemplo como mostrámos aqui no blog.
A inovação social quer ser uma prioridade maior dos Fundos de Apoio Social Europeu da Comunidade Europeia. Para conseguir concretizar as aspirações de inovar é preciso compreender e construir colectivamente em sinergia.
No fim, parece tudo uma questão de escala. Mergulhar na complexidade incrível de um ser vivo para melhor nos percebermos e produzirmos produtos para milhões de pessoas. Eu, por mim e comigo, fascinado com a dimensão do Mundo, vou até à aldeia. E tu?
Publicado por João Cão