Em Dezembro, Jeff Cremer e Phil Torres, que exploravam a floresta Amazónica perto do Centro de Pesquisa de Tambopata, no Peru, descobriram o que poderá vir a ser uma nova espécie de aranha do género Cyclosa. Os cientistas estavam acompanhados pelo internauta responsável pelo canal de YouTube «Smarter Every Day» que registou o momento de descoberta e a emoção da equipa.
Várias aranhas da família Araneidae, as aranhas de teia orbicular, constroem elaborações (ou decorações) das suas teias, ou estabilimentos (stabilimentum em inglês), usando seda, restos de presas e detrito. Originalmente pensou-se que estes estabilimentos funcionariam para estabilizar a estrutura da teia, mas tal ideia foi abandonada. Ainda se discute qual poderá ser, em geral, a função destas elaborações, incluindo defesa ao criar formas que enganam as presas ao criar falsos modelos ou quebrar o recorte da aranha, atrair presas ao reflectir luz ultravioleta, ou atrair os machos da fêmea quando esta está pronta para a reprodução.
Vários membros do género Cyclosa formam estabilimentos que se assemelham a aranhas. É o caso de Cyclosa mulmeinensis, descoberta por Ling Tseng e I-Min Tso numa ilha na costa de Tawain, em 2009 (ver). Segundo estes cientistas, estes modelos atraem predadores – em geral, vespas – por também terem a mesma cor e a mesma maneira de reflectir a luz que as verdadeiras aranhas. E atraem mais os predadores que a própria aranha. Em teias não decoradas as vespas atacavam directamente as aranhas. [Animal Behaviour 2010. vol. 79 (1):179-186]
A pequena Cyclosa octotuberculata, do Guiana, esconde-se num estabilimento criado com restos de presas, no centro da sua teia. Quando perturbada vibra o seu corpo e a sua coloração preto-e-branco torna-se cinzenta, de forma que ela fica camuflada.
A nova espécie de Cyclosa cria um estabilimento que imita uma aranha maior que a sua construtora e que inclui grande detalhe: um cefalo-tóraz com oito pernas e um abdómen. O modelo está no centro da teia, enquanto a aranha posa na sua periferia. Quando perturbada, a aranha faz a teia, e o modelo, vibrar dando-lhe “vida”. Resta confirmar se a função desta estrutura é meramente como defesa contra predadores ou se também contribui para a captura destes.
O detalhe deste modelo é espantoso. Poderia parecer um “milagre” não fosse o nosso conhecimento dos estabilimentos de outras aranhas. Com esse contexto, é fácil postular uma evolução gradual de estabilimentos, de simples aglomerado sem grande forma até um modelo tão próximo da estrutura anatómica de uma aranha, como o desta nova Cyclosa.